sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Que história é essa de nos cobrar por fazer o que é sua obrigação?

Uma das coisas que sempre me tirou do sério é a cobrança que alguns políticos fazem ao povo por terem cumprido com o seu dever. Perdi a conta de quantas vezes li a seguinte frase: “Me admiro as pessoas que se beneficiam dos programas do governo não votarem na Dilma” ou: “Que gente ingrata, recebe benefícios do governo e vota no Aécio”
Como assim? Que raciocínio vocês fazem? Qual é a lógica deste pensamento?

Vejamos como funciona: Uma pessoa se candidata, faz uma série de propostas e o povo confia a ela o seu voto, lhe concedendo um mandato (Vejam bem, o povo lhe concede o mandato) durante o período que você exerce esse mandato, o povo trabalha, dia após dia, muitas vezes em atividades desumanas, com cargas horárias elevadíssimas e salários baixíssimos, para sustentar a manutenção da sua estrutura que inclui o salário, os assessores, o avião, o carro, a comida, a moradia e tudo mais, até a caneta, a folha de ofício, o papel higiênico que o presidente usa é financiado pelo povo.

Porque financiamos tudo isso? Para que o político tenha a oportunidade e as condições para realizar aquilo que nos prometeu. Sim, porque é assim que funciona, o político se elege presidente da república, se comprometendo em administrar o nosso dinheiro e o nosso patrimônio (Pois repito, até o papel higiênico e tudo que ele administra é de NOSSA propriedade) de forma honesta e em benefício do povo, criando programas, projetos, cuidando para que os contribuintes, que somos todos nós, tenhamos retorno daquilo que pagamos.

Aí o cara se elege, fica lá por quatro anos, nós lhe damos todas as condições de trabalho, algo que muitas vezes nós mesmos não temos, para que ele cumpra o seu DEVER, ele geralmente não cumpre grande parte do que prometeu, muitas vezes pede mais tempo para cumprir aquilo que não fez (Assim como aquele cara que te deve e chega na hora de pagar ele diz assim: Não tenho dinheiro, então você que escolhe, ou eu não te pago ou você me dá mais prazo para pagar) e ao final de tudo ele acha que está te fazendo um FAVOR.

Fazendo FAVOR? Então quer dizer que temos que agradecer pelo Bolsa Família, pelo ProUni, pelo FIES, pelo Minha Casa, Minha Vida? É isso? Eu te concedo 12 anos de mandato (Sim, pois eu concedi 12 anos de mandato ao PT, votei neles por todo esse tempo), financio com meu trabalho tudo o que você utiliza, te dei a oportunidade de cumprir tudo aquilo que prometeu, confiei na sua palavra e nas suas “boas” intenções, confiei em você o destino de um país inteiro, o meu destino e de todas as pessoas que amo, e você ainda acha que está me fazendo um favor? Não te faltou nada, teve as melhores condições possíveis, pode nomear quem você quisesse, inclusive pessoas que, além de não trabalharem, passaram o tempo todo roubando o nosso dinheiro, e você tem a ousadia de me chamar de ingrato? É  o SEU dinheiro ou o NOSSO que financiou todos estes programas?
“Um povo que não conhece seus direitos, torna-se um povo submisso e acanhado, onde a classe dos quais deveriam defendê-los, sobressaem em uma covardia moral,  fazendo esse povo voltar a mente para coisas fúteis e sem nexo...Agora um povo conhecedor de seu direitos, luta pelo melhor a cada dia e então o crescimento enquanto seres humanos fica notório.”Letícia Andrea Pessôa
Eu simplesmente não entendo a lógica de quem acredita que o governante faz um favor para o povo que lhe elegeu. Essa postura de achar que o governante é um “iluminado caridoso” que na sua benevolência nos concede a oportunidade de tê-lo nos guiando e garantindo nossa sobrevivência me remete a escravatura quando o “senhor” acreditava que estava dando àquele “ser inferior” a oportunidade de sobreviver, pois sem ele, morreria de fome e, portanto, teriam ser gratos por ter um lugar para dormir e uma gororoba para comer.

Isso só pode ser brincadeira! Como argumento, os caras sempre usam o seguinte: “É, mas quem me antecedeu não fez o que prometeu, ou fez menos do que eu, portanto, mesmo que eu não tenha feito o que prometi e tenha feito alguns “desvios”, ainda sou melhor do que ele”. Hã? Como assim? Você não parou para pensar que foi exatamente por isso que não votei nele e votei em ti? Quando votamos em um candidato, comparando-o com o outro, já fazemos esse raciocínio, se lhe tiramos o mandato e o concedemos a outro político ou grupo político, é porque reconhecemos que ele não atendeu plenamente nossas expectativas, e o concedemos a outra pessoa para que ela atenda essas expectativas, e não nos venha com desculpas, explicações esfarrapadas, e muito menos achando que nos faz um favor. É O POLÍTICO QUE NOS DEVE O FAVOR, NÃO O CONTRÁRIO! É ele que tem o DEVER de cumprir com suas promessas, administrar de forma honesta o nosso patrimônio, e não fazer isso pela metade e depois nos chamar de ingratos.

Temos de parar de ficar apenas com o ônus deste processo, pois quando as coisas saem errado, a culpa é do povo porque votou neles, mas quando saem certo o mérito é do político e não do povo que lhe concedeu essa oportunidade.


A despolitização, inclusive daqueles que se acham politizados, gera uma distorção dos papéis e nos coloca como “reféns” dos políticos. POLÍTICO NENHUM FAZ FAVOR A SEUS ELEITORES! 

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