Em
entrevista ao Jornal espanhol El Pais, publicada na edição do dia 20 de
Outubro, e repercutida no dia seguinte pelo Correio do Povo, o Ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva fez críticas ao PT. Lula disse que parte do partido se
distanciou das origens do PT e “valoriza muito” cargos públicos.
A
recente crítica de Lula nos remete a um conflito real que todos os partidos
brasileiros vivem, que é a “profissionalização da militância”. No período
anterior e imediatamente posterior a ditadura a militância política era
exercida quase que em sua totalidade por “idealistas”, pessoas que traziam
consigo utopias e uma certa megalomania, que lhes fazia acreditar que poderiam “mudar
o mundo”, no linguajar atual poderíamos dizer que quase todo o militante,
principalmente de esquerda, era um “sonhático”.
O tempo
passou e aos poucos a esquerda foi chegando ao poder e com ele a oportunidade
de fazer a diferença, de colocar em prática tudo aquilo que era sonho e teoria.
Infelizmente a realidade nos trouxe frustrações e também alguns efeitos
colaterais. Um deles é a militância profissionalizada, que consiste, basicamente,
de pessoas que ingressam nos partidos quando eles estão no poder, que vão,
desde aqueles que faziam parte de outros partidos, que a medida que eles perdem
o poder e outro assume, migram para o partido que está no poder, e assim
sucessivamente, passando por aqueles que foram indicados para ocuparem alguma
função em atendimento a um pedido de um parente ou amigo com “relações políticas”,
que “ajudaram” na campanha. Existem também aqueles que são funcionários de
carreira e que acabam simpatizando com o partido que está no governo e a ele
acabam se filiando. São muitas as situações.
Isso
quer dizer que essas pessoas não são bem vindas? Não! O problema não é esse,
pois, muitas vezes essa é uma boa oportunidade de garimpar novos talentos,
líderes natos que estavam a espera de uma oportunidade. O
problema, é como os partidos lhe dão com esse militante, como eles são “ganhos”
para a causa, como é passado o entendimento e a compreensão que, para os
idealistas, o poder é passageiro, e em primeiro lugar está a fidelidade, a
honra, a honestidade e o respeito aos valores e princípios que o levaram até
aquela posição. Idealistas não estão nos governos para se perpetuarem no poder
e para se locupletar. Estão lá para cumprir uma missão, e tão logo ela esteja
concluída, deve-se partir para outra. Ter apego aos salários, ao poder, ao
conforto e as facilidades é algo comum entre as pessoas e isso faz com que se
esqueçam dos seus reais objetivos.
Na
entrevista, Lula deixa claro essa preocupação quando diz: “... gente que valoriza demais o parlamento, outros que valorizam os
cargos públicos...” para ele, “as
pessoas tendem a esquecer os tempos difíceis em que para nós era bonito carregar
pedras. Acreditávamos, era maravilhoso. Um grupo mais ideológico, a gente
trabalhava de graça, de manhã, de tarde, de noite. Agora, você vai fazer uma
campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar ás origens, mas o que eu
gostaria é que não esquecêssemos para que fomos criados”.
É
preciso que todos os partidos saibam lidar com isso, Que não se afastem de seus
princípios e ideais. Quando se deixa levar pelo objetivo de garantir “espaço”
para seus militantes, os partidos se desviam de seus princípios ideológicos e
viram “produtos” em prateleiras, a espera de alguém que lhes ofereça o “melhor
preço”, e isso cria anomalias como a “supervalorização” de parlamentares e do
poder.
Lula crítica supervalorização do parlamento. Eu tenho certo descontentamento com a supervalorização e com postura de alguns parlamentares. Embora sejam
fundamentais, eles não são todo o partido. Nenhum partido vive de parlamentares
e seus CCs, é preciso ter militantes, dirigentes, pessoas comprometidas com o
ideário partidário e coletivo, pois o vinculo com o parlamentar, tende a se
transformar em uma relação personalista que leva, muitas vezes, o interesse de
manutenção do mandato, e consequentemente dos “cargos”, uma prioridade acima do
interesse coletivo do partido. É muito comum que alguns parlamentares
utilizem-se do fato de “ter votos” para auferirem vantagens perante os outros
militantes partidários, o que muitas vezes desvaloriza o papel do “dirigente partidário”
e impede o desenvolvimento de novas lideranças.
Infelizmente,
são poucos os parlamentares “altruístas” que compreendem que “mesmo sem mandato”
o dirigente partidário tem um papel fundamental na organização partidária, no
garimpo de novas lideranças, no contato com a população e com os demais
partidos, e que, partido de verdade valoriza e investe na formação de “quadros”. Disputar eleições não é o único objetivo da
existência de um partido político.
É hora
dos partidos repensarem seus objetivos de futuro, e ousarem na busca de um novo
modelo político e partidário, mais próximo da ideologia e da coletividade,
menos individualista. Crer que pode ser feito diferente é fundamental para que
os paradigmas e os “vícios” sejam quebrados. Eu quero mais e melhor!
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