terça-feira, 22 de outubro de 2013

A militância profissionalizada

Em entrevista ao Jornal espanhol El Pais, publicada na edição do dia 20 de Outubro, e repercutida no dia seguinte pelo Correio do Povo, o Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas ao PT. Lula disse que parte do partido se distanciou das origens do PT e “valoriza muito” cargos públicos.

A recente crítica de Lula nos remete a um conflito real que todos os partidos brasileiros vivem, que é a “profissionalização da militância”. No período anterior e imediatamente posterior a ditadura a militância política era exercida quase que em sua totalidade por “idealistas”, pessoas que traziam consigo utopias e uma certa megalomania, que lhes fazia acreditar que poderiam “mudar o mundo”, no linguajar atual poderíamos dizer que quase todo o militante, principalmente de esquerda, era um “sonhático”.

O tempo passou e aos poucos a esquerda foi chegando ao poder e com ele a oportunidade de fazer a diferença, de colocar em prática tudo aquilo que era sonho e teoria. Infelizmente a realidade nos trouxe frustrações e também alguns efeitos colaterais. Um deles é a militância profissionalizada, que consiste, basicamente, de pessoas que ingressam nos partidos quando eles estão no poder, que vão, desde aqueles que faziam parte de outros partidos, que a medida que eles perdem o poder e outro assume, migram para o partido que está no poder, e assim sucessivamente, passando por aqueles que foram indicados para ocuparem alguma função em atendimento a um pedido de um parente ou amigo com “relações políticas”, que “ajudaram” na campanha. Existem também aqueles que são funcionários de carreira e que acabam simpatizando com o partido que está no governo e a ele acabam se filiando. São muitas as situações.


Isso quer dizer que essas pessoas não são bem vindas? Não! O problema não é esse, pois, muitas vezes essa é uma boa oportunidade de garimpar novos talentos, líderes natos que estavam a espera de uma oportunidade. O problema, é como os partidos lhe dão com esse militante, como eles são “ganhos” para a causa, como é passado o entendimento e a compreensão que, para os idealistas, o poder é passageiro, e em primeiro lugar está a fidelidade, a honra, a honestidade e o respeito aos valores e princípios que o levaram até aquela posição. Idealistas não estão nos governos para se perpetuarem no poder e para se locupletar. Estão lá para cumprir uma missão, e tão logo ela esteja concluída, deve-se partir para outra. Ter apego aos salários, ao poder, ao conforto e as facilidades é algo comum entre as pessoas e isso faz com que se esqueçam dos seus reais objetivos.

Na entrevista, Lula deixa claro essa preocupação quando diz: “... gente que valoriza demais o parlamento, outros que valorizam os cargos públicos...” para ele, “as pessoas tendem a esquecer os tempos difíceis em que para nós era bonito carregar pedras. Acreditávamos, era maravilhoso. Um grupo mais ideológico, a gente trabalhava de graça, de manhã, de tarde, de noite. Agora, você vai fazer uma campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar ás origens, mas o que eu gostaria é que não esquecêssemos para que fomos criados”.

É preciso que todos os partidos saibam lidar com isso, Que não se afastem de seus princípios e ideais. Quando se deixa levar pelo objetivo de garantir “espaço” para seus militantes, os partidos se desviam de seus princípios ideológicos e viram “produtos” em prateleiras, a espera de alguém que lhes ofereça o “melhor preço”, e isso cria anomalias como a “supervalorização” de parlamentares e do poder.


Lula crítica supervalorização do parlamento. Eu tenho certo descontentamento com a supervalorização e com postura de alguns parlamentares. Embora sejam fundamentais, eles não são todo o partido. Nenhum partido vive de parlamentares e seus CCs, é preciso ter militantes, dirigentes, pessoas comprometidas com o ideário partidário e coletivo, pois o vinculo com o parlamentar, tende a se transformar em uma relação personalista que leva, muitas vezes, o interesse de manutenção do mandato, e consequentemente dos “cargos”, uma prioridade acima do interesse coletivo do partido. É muito comum que alguns parlamentares utilizem-se do fato de “ter votos” para auferirem vantagens perante os outros militantes partidários, o que muitas vezes desvaloriza o papel do “dirigente partidário” e impede o desenvolvimento de novas lideranças.

Infelizmente, são poucos os parlamentares “altruístas” que compreendem que “mesmo sem mandato” o dirigente partidário tem um papel fundamental na organização partidária, no garimpo de novas lideranças, no contato com a população e com os demais partidos, e que, partido de verdade valoriza e investe na formação de “quadros”.  Disputar eleições não é o único objetivo da existência de um partido político.

É hora dos partidos repensarem seus objetivos de futuro, e ousarem na busca de um novo modelo político e partidário, mais próximo da ideologia e da coletividade, menos individualista. Crer que pode ser feito diferente é fundamental para que os paradigmas e os “vícios” sejam quebrados. Eu quero mais e melhor!


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Só da Eduardo Campos e Marina Silva!


O Assunto do momento é a filiação de Marina Silva ao PSB, e o seu apoio a candidatura de Eduardo Campos. No meio político não se fala em outra coisa, ainda mais após a divulgação da nova pesquisa do Data Folha que aponta crescimento dos dois, principalmente de Eduardo Campos que chegou aos 15%, seu melhor desempenho até agora, que em pesquisas anteriores não passavam dos 8%. A união do PSB e REDE está dando o que falar como mostra o Blog Hall Socialhttp://hallsocial.leiaja.com/post/2013/agora-e-nossa-vez) reproduzido abaixo:
       

    "Agora é a nossa Vez"
  Por Daliana Martins No dia 14/10/2013 - 11:15



Será, hein, que teve repercussão a aliança da ex senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco Eduardo Campos, anunciada no sábado (5)? A formação da chapa do PSB rumo a campanha presidencial de 2014 dominou as capas das principais revistas semanais, e com direito a entrevistas em todas elas. Veja, IstoÉ, Carta Capital, Exame e Época entre as que estamparam 'a nova oposição', como destacou a Exame. Se era exposição midiática o que eles queriam, taí!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Saída do PSB do governo racha o campo da esquerda

Confira o Editorial do Valor Econômico: Saída do PSB do governo racha o campo da esquerda
Divulgação     
  
PSB - 23/09/2013
Editorial do Valor Econômico, publicado nesta segunda-feira (23), afirma que decisão do PSB de entregar os cargos que ocupava no governo federal mostra que é possível sim fazer política de uma forma diferente no Brasil. Confira:


Saída do PSB do governo racha o campo da esquerda

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) é uma legenda histórica, com mais de 60 anos de atuação na política nacional. Desde a redemocratização, com exceção da eleição de 2002, quando lançou candidato próprio, sempre esteve aliado ao PT, junto com PDT e o PCdoB. O divórcio consumou-se na semana passada, quando seu presidente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, entregou os cargos que o partido ocupava no governo federal, sendo os mais importante a Secretaria de Portos e o Ministério da Integração Nacional.

O gesto do PSB é a primeira manifestação importante de divisão no campo da esquerda que, desde 2003, governa o país. Além de ter história e uma bancada de médio porte no Congresso, o partido foi um aliado solidário dos governos do PT, inclusive em seus momentos mais críticos, como ocorreu na crise do mensalão, quando até mesmo eminentes próceres petistas voltaram as costas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O PSB é um partido em franco crescimento, como demonstraram as eleições de 2010, quando elegeu os governadores de seis Estados, sendo quatro deles (Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí) no Nordeste, um celeiro de votos do atual campo governista. Nada mais legítimo, portanto, que o partido tenha a aspiração de eleger um de seus quadros presidente da República. Este quadro é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, líder quase inconteste do PSB. Ao devolver os cargos, Campos fez sua maior cartada e o PSB demonstrou que é possível fazer política com alguma dignidade.

Foi uma decisão autônoma, ética e responsável. Autônoma, porque tomada no voto de cada dirigente na instância partidária adequada; ética, pois a dupla militância empurrava o PSB para a dubiedade de quem caminha para a oposição mas não quer deixar as benesses do governo e responsável porque, ao sair, o PSB manteve o apoio a um governo sobre o qual tem críticas efetivas, mas ao qual está umbilicalmente ligado por uma coligação eleitoral. Não se trata de rompimento, o que pode até vir a ocorrer mais tarde, se a relação de 25 anos se tornar insustentável.

Resta ao governo da presidente Dilma Rousseff, que forçou o PSB a essa decisão, compreender e reagir com a civilidade política que se espera de um governo republicano. É provável que Eduardo Campos tivesse tomado antes a decisão de se afastar do governo, não fosse o temor de retaliação do poder central aos governadores, prefeitos e parlamentares do PSB. A saída do PSB deveria servir de exemplo e inaugurar uma época de bons costumes na política. Infelizmente, não é o que se prenuncia, no momento.

Antes mesmo da separação, governantes do PSB já recebiam o tratamento que o PT costuma dispensar aos inimigos políticos. Na reunião da Executiva Nacional que decidiu a entrega dos cargos, realizada na última quarta-feira, em Brasília, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, contou um episódio que retrata esse tipo de mau comportamento.

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) esteve em João Pessoa para inaugurar uma obra construída com 65% de verbas estaduais. Convidou até os adversários do PSB, mas esqueceu do dever institucional, republicano e civilizado de chamar o governador do Estado. Outros relatos se seguiram, reveladores de uma relação em deterioração.

O governo e o PT, por seu turno, preparam um ataque especulativo sobre as bases do PSB, estimulando intriga e divisão. O PMDB, para não fugir a sua natureza, não perdeu tempo e abriu a temporada de caça ao espólio do PSB, especialmente o Ministério da Integração Nacional, pasta que já ocupou em administrações de triste memória. Justifica-se que esse é o preço a pagar num sistema de presidencialismo de coalizão, a fim de assegurar a estabilidade de governos eleitos sem uma base partidária forte, majoritária. Esquece-se de dizer, convenientemente, que a essência das coalizões deveria ser programática.

Num cenário em que o apego aos cargos é a regra, mesmo de ministro pilhados em malfeitorias, como já ocorreu mais de uma vez no governo da presidente Dilma, a decisão do PSB, forçada ou não, é alvissareira. Mesmo que nada indique que possa se tornar prática corrente.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Carta da Executiva Nacional do PSB à presidente Dilma Rousseff

Brasília, 18 de setembro de 2013

À Sua Excelência Senhora Dilma Rousseff
Em mãos.
Senhora Presidenta,
Desde 1989, quando da criação da “Frente Brasil Popular”, o Partido Socialista Brasileiro integra, juntamente com o Partido dos Trabalhadores e outros do campo da esquerda, a base política e social que, durante as sucessivas eleições presidenciais de 1989, 1994, 1998 e no segundo turno de 2002, apoiou e, finalmente, levou à Presidência da República, o companheiro Luís Inácio Lula da Silva, cujo governo contou com nossa participação, colaboração e  sustentação, no Executivo e no Parlamento.
Convidado a ocupar funções governamentais, nosso  Partido contribuiu para os avanços econômicos e sociais proporcionados ao País pelo governo do honrado Presidente Lula, dedicando seus melhores esforços e sua total lealdade nos momentos mais difíceis dos oito anos de mandato.
Em março de 2010, embora contássemos com um pré-candidato à presidência da República e fosse desejo manifesto de nossa base e das lideranças do partido o lançamento de candidatura própria, o PSB, a partir de uma profunda reflexão e discussão política com o companheiro Lula, abdicou dessa legítima pretensão e decidiu integrar a frente partidária que apoiou a candidatura de Vossa Excelência à Presidência da República.
Quando da formação do governo, Vossa Excelência convidou-nos para discutir nossa participação, ocasião em que manifestamos a possibilidade de apoiar sua administração sem necessariamente ocupar cargos. Vossa Excelência, entretanto, expressou o desejo de quadros do PSB na Administração, com o que concordamos sem apresentar condicionantes.
Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por, comentários e opiniões, jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014.
Longe de receber tais manifestações como ameaça, o Partido Socialista Brasileiro - que nunca se caracterizou pela prática do fisiologismo - reafirma seu desapego a cargos e posições na estrutura governamental, e reitera  que seu apoio a qualquer governo jamais dependeu de cargos ou benesses de qualquer natureza, e sim do rumo estratégico adotado que, a nosso ver, deve guardar identidade com os valores que alicerçam a trajetória política do nosso Partido. Nossas divergências, todavia, não impediram nosso apoio ao governo de Vossa Excelência, mas pretendemos discutir com a sociedade, de forma mais ampla e livre.
O Partido Socialista Brasileiro, nos seus 60 anos de presença na vida política nacional, jamais transigiu ou negociou suas convicções e seus ideais programáticos.
Com longa tradição na luta pela democracia e pela justiça social, o PSB participou ativamente de importantes momentos da vida nacional, como a memorável campanha do “petróleo é nosso”, a luta pela reforma agrária, a luta pelas "Diretas-já" e pela democratização do País. Sempre nos inspiraram exemplos como os de nossos companheiros João Mangabeira, Hermes Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Evandro Lins e Silva, Antônio Houaiss, Miguel Arraes e Jamil Haddad.
É justamente pelo apego a essa  história que o partido, nos últimos anos, vem merecendo o reconhecimento da sociedade brasileira refletido no seu crescimento nas sucessivas vitorias eleitorais.
Por todas essas razões, o PSB vem à presença de Vossa Excelência, formalmente, declinar de sua participação no Governo, entregando os cargos que ora ocupa, ao mesmo tempo em que reafirma que permanecerá, como agora, em sua defesa no Congresso Nacional. Esta decisão não diz respeito a qualquer antecipação quanto a posicionamentos que haveremos de adotar no pleito eleitoral que se avizinha, visto que nossa estratégia –que não exclui a possibilidade de candidatura própria –serádiscutida nas instâncias próprias, considerando nosso programa e os mais elevados interesses do País e a luta pelo desenvolvimento com igualdade social.
Saudações Socialistas,
Eduardo Campos
Presidente Nacional do PSB
A Sua Excelência,
Senhora Presidenta Dilma Vana Rousseff
Palácio do Planalto – Praça dos Três Poderes
Brasília-DF

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A esquerda genuflexa (e pragmática)

Opinião

A esquerda genuflexa (e pragmática)

Os avanços eleitorais têm servido para encobrir a derrota ideológica por WO, porque sua trágica característica é a renúncia da esquerda ao debate das teses que a justificam
por Roberto Amaral Reprodução de Artigo Publicado em 10/09/2013 na Carta Capital Online 


Olívio Dutra enobrece a política brasileira. Probo, coerente (guarda extraordinária harmonia entre a vida privada e a pública, ao que diz e prega e faz), culto (e aí torna-se avis rara na política brasileira de hoje) e de esquerda, formado na militância e na vida. Olívio está afastado das disputas eleitorais – graças aos erros rotundos de seu partido – mas não abandonou a política como espaço de reflexão. Isto pode ajudar nosso país, se a política lhe der ouvidos.
Em recente entrevista ao Correio do Povo (1º/9/2013), aparentemente referindo-se ao seu partido (PT), o ex-governador gaúcho na verdade está  advertindo a todos nós, de especial  – aos poucos, pouquíssimos, dirigentes de esquerda – sobre a trágica falência do sistema partidário brasileiro: “Precisamos de um partido que não se misture com as práticas tradicionais do toma-lá-dá-cá, do pragmatismo, do jeitinho, que fazem da política essa coisa que não transforma nada nas suas raízes, que acomoda fazendo de conta que muda, mexendo na superfície”.
Foto de Humberto Pradera
É o diagnóstico redondo da crise dos partidos, mãe da crise da política, que não encontra no Parlamento (este que, entre outras estripulias, absolveu Donadon, dando luz à figura do deputado-presidiário) espaço para o que quer que seja. Daí, a explosão das ruas. Explosão que não pode ser, porém, mera válvula de escape no momento de maior pressão, e que também não pode esvaziar-se em uma agenda negativista, um niilismo absoluto que nega tudo, mas nega principalmente a política – o campo da crise, é verdade, mas também, e acima de tudo, o único espaço da solução.
A política de terra arrasada do niilismo, o nada contra o nada, é, pretendendo o contrário, vassala dos que minam a política destruindo os partidos, por dentro, como caruncho, e, por consequência, minam a democracia. Ao invés do nada, devemos, com as ruas, pleitear tudo, a começar pelas transformações estruturais. Mas essa tarefa não pode ser liderada por um governo condicionado por uma coalizão partidária caleidoscópica que não comunga com seus projetos, como também não pode ser dirigida por partidos de esquerda que vêm paulatina mas sistematicamente saltando para a outra margem do rio. Nem com aquele grande partido cuja missão é garantir que tudo fique como está, em qualquer tempo e em qualquer governo.
Volto a Olívio Dutra: “Temos políticas de governo importantes, que tinham de ser feitas, mas precisamos de políticas de Estado, transformadoras e duradouras. Deve haver um compromisso de esquerda. O campo popular democrático precisa ser mais nítido na sua conformação ideológica, e os partidos que o compõem, mais compromissados  entre si em diferentes mandatos, com alternativas entre eles”.
O governo, nosso governo, esquiva-se de institucionalizar as conquistas e não lhes empresta significado político-ideológico, e assim elas se consomem como projetos burocráticos, não servem nem à sustentação dele, governo, nem à politização das massas. A base aliada (alugada, com fidelidade que cobra taxas extras a cada votação significativa)  é liderada por um PMDB cuja sobrevivência depende da inexistência de mudanças, pois sua fonte de poder é a inércia social: é preciso deixar tudo como está para que ele continue governando os grotões e as casas legislativas, a começar pelo Congresso Nacional.
Diz  Olívio Dutra que “Nas últimas décadas, o PT secundarizou a vinculação aos movimentos sociais. Há um processo de burocratização que faz esse partido de transformação, aos poucos, entrar em acomodação, o que o coloca também como objeto das críticas das ruas. O povo quer mudanças muito mais profundas e amplas, para que o Estado funcione bem e melhor e não apenas para alguns. O PT precisa ser sacudido de baixo para cima”.
Eu vou mais longe: todos os partidos de esquerda precisam ser passados a limpo. A verdade é que, liderados pelo PT, os partidos do campo popular já aderiram a esse ‘pragmatismo’,  e, adotando a mesma política e praticando os mesmos métodos, e vícios,  se confundem com os partidos conservadores, principalmente em seus métodos, e na verdade se transformaram em partidos (e sindicatos) da ordem. É até admissível que, no governo e nele mal sustentados, esses partidos renunciem ao ideário revolucionário, mas ninguém lhes pediu que renunciassem, até, ao reformismo dos anos 60 quando as ruas de então pediam reforma agrária, reforma universitária, reforma tributária, reforma política etc., a saber, as reformas de hoje, as quais, no seu conjunto, pedem mais Estado.
Em entrevista a Daniela Pinheiro (O comissário”. Piauí, setembro de 2013, p. 26), o historiador Lincoln Secco vaticina, como futuro do partido de Lula, “transformar-se em um partido totalmente eleitoral”, apesar de o Brasil, acrescenta, ter ainda muitos miseráveis “que podem ser atingidos pelas ações de assistência social”, donde se conclui que, na sua opinião, o PT depende dos assistencialismo tradicional que depende da sobrevivência da miséria que nossos governos têm o dever programático e ético de eliminar. Penso que esse fenômeno deve ocorrer no médio prazo – se a conservação no poder constituir-se em fim que justifica quase todos os meios –, e estou convencido de que se tratará de processo coletivo: sob as largas asas do PT governista e pragmático voarão todos os partidos do campo da esquerda com, talvez, a exceção dos partidos da extrema esquerda que ainda se consideram revolucionários, pelo menos enquanto não puderem ter maiores expectativas eleitorais.
A pequena política termina vencendo a grande política.  Assim é aqui, assim foi na Europa.
A tendência dos partidos de esquerda, conquistado o governo, ou para conquistá-lo, é transitar para a socialdemocracia e os originalmente socialdemocratas tendem para o centro e o centro para a direita enrustida, como a brasileira de hoje.
Neste processo fomos antecedidos pela prática europeia. Lá, a esquerda sucumbiu ideologicamente, com seus partidos transitando de suas posições originárias – oriundas da luta antifascista na Segunda Guerra Mundial, da luta operária e das greves – donde a identificação com o socialismo – e dos movimentos sociais, para a socialdemocracia e várias concordatas com a direita. Compare-se a primeira presidência de Mitterrand com o governo de Hollande, ambos do mesmo PSF;  o trabalhismo de Clement Attlee e Harold Laski com a degenerescência ético-política de  Tony Blair. Os fracassos sucessivos dos partidos socialistas português, espanhol, grego e italiano, ensinando que não vale a pena ganhar eleitoralmente se o partido está disposto a fazer o governo dos adversários.
Nessa Europa decadente, museu de impérios esvaziados pela perda das colônias exploradas, a decadência ideológica fez-se acompanhar das seguidas derrotas eleitorais: Inglaterra, Espanha, Suécia, Austrália, Portugal, Grécia, Hungria, Polônia…
Diferentemente da lamentável lição europeia, na América do Sul as ditaduras e os governos neoliberais foram seguidamente substituições por formações progressistas, populares e mesmo de esquerda, como  Venezuela,  Uruguai, Bolívia, Equador, Brasil, e os controvertidos governos dos Kirchners.
No Brasil, porém, as vitórias eleitorais não foram  acompanhadas de avanços ideológicos.
A questão de fundo – e a separação entre causa e consequência não me parece clara – é, entre nós, a falência do pensamento de esquerda, a ausência de reflexão e produção teórica, a renúncia ao socialismo (pelo menos de sua defesa), donde quadros despreparados para o embate, desmotivados para a luta, presas fáceis do pragmatismo, a um passo da redução da revolução social à  ‘revolução pessoal’, e do niilismo que absolve tudo, das omissões ao adesismo à ordem.
Talvez tudo isso, e mais o que não sei, possam explicar a surpresa de nossas esquerdas diante da irrupção das ruas, que já deviam estar ocupadas e lideradas por elas, se elas, nossas esquerdas, não estivessem silenciadas diante das questões mais graves do pais, e nossos partidos esquecidos daquela velha lição que dizia que seu papel era estar à esquerda do governo. A sustentação que oferecemos ao governo é puramente política, conservadora e tradicional, e, por  tradicional,  alimentada pelo assistencialismo despolitizante.
Dá-se, assim, entre nós, aquela maldição que Secco atribui  aos partidos, em seu caminhar da oposição ao governo, da esquerda para a direita: primeiro, a ação extraparlamentar, a prioridade à luta sindical, o grevismo e o socialismo; depois o exercício do papel de oposição de massa e a formação de bloco parlamentar e, por fim, e no fim, a conquista do governo, onde, para se manter, adota as práticas da velha política, antes condenadas.
Os avanços eleitorais têm servido para encobrir a derrota ideológica por WO, porque sua trágica característica é exatamente essa, a renúncia da esquerda ao debate das teses que a justificam, pois, para aqueles avanços eleitorais, paga o preço da auto descaracterização.
Em plena crise do capitalismo, o movimento socialista mundial nega-se a formular sua crítica e renuncia à possibilidade de construir um sistema alternativo. No Brasil ficamos na janela, ‘olhando a banda passar.
As seguidas e salutares derrotas eleitorais da direita, destacadamente as de 2006 e 2010, levaram muitos de nossos ‘estrategistas’ a decretarem o fim do papel manipulador dos grandes meios de comunicação e da capacidade da classe média, deles refém ideológica, a influir na formação do pensamento político nacional, acentuado seu lado mais preconceituoso, conservador e reacionário.
Passados dez anos de governos progressistas, simplesmente acentuou-se o monopólio da (des)informação, controlado por umas três ou quarto famílias, proprietárias de três ou quarto empresas comerciais que entre si controlam o que a população brasileira por ler, ouvir e ver, sem qualquer ordem de contraditório.
A história cobrará alto preço pela nossa leniência.

Partidos políticos ou sabonetes?



por Cleber Benvegnú (JORNALISTA E CONSULTOR POLÍTICO)

Publicado no Jornal Zero Hora dia 21/08/2013

O marketing emprestou inestimáveis contribuições para a política. Migramos de uma linguagem rebuscada e burocrática para uma comunicação moderna, simbólica e emotiva assim como é a própria vida. Porém, essa evolução trouxe consigo diversas contradições, especialmente quando a política subjugou-se à lógica da propaganda como se fosse reles objeto à venda na prateleira do supermercado.

Os partidos brasileiros, adotando um viés consumista por cargos, dinheiro e espaços de poder, assumiram a estratégia do sabonete – inclusive no sentido de que deslizam com facilidade. Isto é: viraram mero subproduto do marketing, marionetes adaptáveis a qualquer situação. Confundiram-se. Igualaram-se. Coisificaram-se. E, faz muito tempo, deixaram de inspirar e de liderar. Formaram uma grande geleia geral.

Isso não quer dizer que as ideologias acabaram. Ainda é possível identificar raciocínios com matriz ideológica. Porém, na medida em que trocam as ideias por mero jogo de curto prazo, os partidos caminham para um gradual esgotamento – se não como instituição, certamente como significação. E eis que, na perspectiva da coerência, só sobram os extremistas – coerentes com suas próprias maluquices e, benza Deus, aceitos por ínfima parcela da população.

"As legendas, salvo raras iniciativas, abdicaram de pensar. Abriram mão de suas ideias. Desistiram de formar opinião. Pesquisas quantitativas e qualitativas, para medir o que o povo quer, tomaram lugar dos cursos de preparação de líderes."

As legendas, salvo raras iniciativas, abdicaram de pensar. Abriram mão de suas ideias. Desistiram de formar opinião. Pesquisas quantitativas e qualitativas, para medir o que o povo quer, tomaram lugar dos cursos de preparação de líderes. Em vez de convencer, navegam no que convencido está. Não importa tanto o que dizer, mas dizer o que a média quer ouvir. A biruta tomou lugar da bússola: o vento dita o rumo. A moda é ser querido, leve, palatável, simpático e não comprar qualquer briga com corporações, grupos de interesse ou famosos do politicamente correto.

Nessa expectativa de agradar a todos, muitas siglas acabam descuidando de seus potenciais públicos cativos. Basta ver que, enquanto grande parte dos brasileiros se identifica com ideias conservadoras (de base judaico-cristã), as agremiações com essa origem fogem desse viés direitista. Covardemente, aceitam a própria pejoração.

Mudar esse cenário passa por assumir identidades. Ter lado, ter cara, ter posição, ter bandeira – por mais que desagrade a parte do eleitorado. A descrença do ambiente partidário, portanto, não é apenas de representação. É também, e acima de tudo, uma crise de inspiração e de liderança. O povo cansou de sabonetes na política. Está na hora de políticos e partidos de verdade.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Médicos Cubanos – Socialismo – Política – Militância – Tudo ao mesmo tempo agora!


"Nós somos médicos por vocação, não por dinheiro, não nos interessa o salário, fazemos o trabalho por amor."
A afirmação é do médico cubano Nelson Rodriguez, 45 anos, que chegou no sábado (24.08.2013), ao Recife, e logo foi questionado sobre o salário que receberá pela atuação no Brasil através do programa Mais Médicos.


A vinda dos médicos Cubanos para o Brasil, reacendeu um sentimento que vivo desde adolescência, que diz respeito à forma com que vejo o mundo e conduzo minha vida.

Em meio à polêmica do programa Mais Médicos, o médico cubano Nelson Rodriguez, sai com a frase destacada acima, e coloca um grande ponto de interrogação na cabeça de todo mundo. Pelo que lutamos?

Quando comecei a formar minhas convicções socialistas, era adolescente, e devorava tudo que é livro e texto que chegava as minhas mãos. Queria ter convicção do que defendia, pois como dizia Che: “É preciso forjar, dia a dia, o seu espírito revolucionário”.  Após ter ficado afastado da militância partidária, por 11 anos, me filiei no PSB, com o intuito de seguir minha missão revolucionária, forjando, diariamente, meu espírito, mas, mais do que isso, cativar outras pessoas para a luta em defesa de uma sociedade melhor.

Confesso que o quadro político brasileiro não é nada animador, pelo contrário, é desanimador! Os partidos, em sua esmagadora maioria, sequer cumprem o que está escrito em seu programa, e não seduzem ninguém a se aproximar.

Assim como meu espírito revolucionário e socialista, também tenho de forjar, diariamente, as convicções de que escolhi o partido político certo para militar. Ter a certeza de que o PSB é o melhor caminho, é uma busca diária, que faço com dedicação, procurando contribuir, nas instâncias do partido, para que possamos ser o espaço socialista daqueles que não se movem, única e exclusivamente, pelo dinheiro, e sim pela certeza de que temos algo mais por fazer, além de produzir, armazenar e gastar capital.

Dar sentido a Vida, além do valor monetário dela, é o que move idealistas como eu. Por isso, estou utilizando as ferramentas que a internet me proporciona, para difundir minha forma de pensar e minhas crenças.

Foto tirada por minha filha Renata Neglia

Dia destes, minha filha caçula postou uma foto, no Instagram, de um cantinho da estante da minha sala, onde está uma foto do comandante “Che Guevara”, que me foi presenteada pelos amigos Régis e Cibele, e uma “Matrioshka”, com a imagem de Lenin, que trouxe de Moscou. Dias depois minha esposa me perguntou quem era Lenin, pois, neste período todo em que ela enfeita nossa estante, jamais ela se interessou em saber quem era ele, só sabia que devia ser alguém “importante”. O questionamento dela me fez perceber o quanto é importante que conversemos sobre o assunto, e estudemos sobre ele.

Resolvi pegar a “matrioshka” que contém a imagem dos “presidentes” da antiga União Soviética, de Lenin a Gorbatchev, e viajei no tempo, me veio à memória todo o aprendizado, a percepção que tinha na época, os sonhos, a coragem, pois, como dizia outra frase do comandante: “ser jovem e não ser revolucionário, é uma contradição genética”, mas veio também a necessidade de revisão de alguns conceitos e entendimentos, pois lendo hoje, a mesma coisa que li no passado, produz um outro efeito. Por isso, resolvi que deveria reler, reestudar e repensar sobre isso, e também que deveria compartilhar, principalmente minhas reflexões.

Foi para dividir minhas opiniões e reflexões, que resolvi criar este Blog, para ser um espaço só sobre política, já que possuo um blog onde falo sobre tudo, e espero que, juntamente com a página no Facebook, ele seja um lugar para compartilhar um pouco do que penso sobre política, para falar sobre minha militância partidária, nossas lutas diárias, sobre o socialismo, através de textos meus ou de outras pessoas, reproduzidos dos documentos do partido que, através da Fundação João Mangabeira, produz muita coisa boa e interessante, enfim, onde mais consiga encontrar.

Conto com a colaboração de vocês!